sábado, 28 de novembro de 2009



GENOCÍNDIO

Emmanuel Marinho

(crianças batem palmas nos portões)


tem pão velho?

não, criança
tem o pão que o diabo amassou
tem sangue de índios nas rua
se quando é noitea lua geme aflitapor seus filhos mortos.
tem pão velho?
não, criança
temos comida farta em nossas mesas
abençoada de toalhas de linho, talheres
temos mulheres servis, geladeiras
automóveis, fogãomas não temos pão.

tem pão velho?

não, criança
temos asfalto, água encanada
super-mercados, edifícios
temos pátria, pinga, prisões
armas e ofíciosmas não temos pão.
tem pão velho?
não, criançatem sua fome travestida de traposnas calçadas
que tragam seus pezinhosde anjo faminto e frágil
pedindo pão velho pela vidatemos luzes sem alma pelas avenidastemos índias suicidas
mas não temos pão.

tem pão velho?

não, criançatemos mísseis, satélites
computadores, radarestemos canhões, navios, usinas nucleares
mas não temos pão.

tem pão velho?

não, criançatem o pão que o diabo amassou
tem sangue de índios nas ruase quando é noite
a lua geme aflitapor seus filhos mortos.

tem pão velho?

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